O AFETO E O FUTURO

[...] Uma mãe, um filho, e o cuidado com o futuro do planeta. Todos os domingos, eu penso que o Carlinhos e a sua mãe, em alguma casa simples da periferia de Guarulhos, estão, afetuosamente, praticando a compostagem [...]

O nome dele é Carlos. Os amigos o chamam de Carlinhos. Ele é um garoto, como tantos outros, que moram na periferia da cidade de Guarulhos. Ele está no quarto ano do Ensino Fundamental. Carlinhos, e eu me refiro a ele agora no diminutivo por vários motivos: pela idade, pela altura e por me sentir já amigo do menino do CÉU PONTE ALTA.

Ele tem 10 anos, mora com a mãe, que é catadora. Sobre o pai o menino não nos deu informações. Ele tem uma irmã mais velha. É importante esclarecer, tudo que narrei até agora me foi contado depois, em particular, depois do que ainda vou relatar. O que vou relatar é o fato e foi o fato que deu origem a essa crônica.

Semana passada, iniciamos a segunda semana de apresentações do esquete teatral ‘Fim Que Vira Começo Que Vira’ no CEU PONTE ALTA, em Guarulhos. Na última apresentação de terça-feira, o público era o quarto ano. A sala do nosso Carlinhos.

O espetáculo começou. Canções, encontros, avô e neto dão vida à história que compartilha conceitos de reciclagem e preservação do meio-ambiente por meio da relação afetuosa de Seu Nilo e o seu neto Pedrinho.

Quando Seu Nilo pergunta sobre COMPOSTAGEM, um menino levantou o braço no meio da plateia. E ali ficou por alguns minutos com o dedo em riste pedindo o direito à fala.

Antes de encerrar a sessão, resolvi abrir o espetáculo e escutar o que tanto o menino queria dizer. Eu, ou o Seu Nilo, disse: ‘Diga, rapaz. Pode falar, menino’. Carlinhos, hoje eu sei que o nome dele é esse, disse com orgulho e lágrimas nos olhos: ‘Eu e minha mãe fazemos compostagem lá em casa. A gente passa o domingo inteiro juntos preparando a compostagem. Eu vou separando tudo na semana, e no domingo a gente cuida do jardim no quintal, das plantas e praticamos a compostagem juntos’. Nós todos nos comovemos. Encerrou-se o espetáculo.

Nas informações recolhidas após a surpresa da fala do menino, ele nos contou que quase não vê a mãe na semana. Ela é catadora, e quando ela chega em casa, ele, quase sempre, já está dormindo. Mas os dois têm um pacto: o encontro do domingo. A relação de afeto entre mãe e filho se dá por meio da compostagem.

Uma mãe, um filho, e o cuidado com o futuro do planeta. Todos os domingos, eu penso que o Carlinhos e a sua mãe, em alguma casa simples da periferia de Guarulhos, estão, afetuosamente, praticando a compostagem.

O mesmo afeto nos conduziu nas mais de 40 apresentações feitas só para os alunos do CEU PONTE ALTA.